terça-feira, 24 de maio de 2011

Não vou contar como ela morreu, vou contar como ela viveu

Era uma vez uma mulher que nasceu em Gaia e se chamava Berta. A Berta namorou com o Diamantino, mas casou com o José. A Berta pariu quatro filhos de cesariana e que lhe deixaram uma cicatriz do umbigo às mamas. A Berta trabalhou na salga do bacalhau em Lavadores e nunca contrabandeou um para comer em casa. A Berta criou-me, desde que eu tinha 8 meses de vida até aos 8 anos. A Berta dava-me surras e penteava-me as chocas do cabelo. A Berta acordava-me de manhã cedo para ir para a escola, e fazia-me café com leite e comprava moletes frescos para o meu pequeno-almoço. A Berta não me comprou um modelo anatómico humano como o que havia na minha escola, mas comprou-me dois totós verdes na loja dos 300, e que ainda hoje, são os totós mais bonitos que alguma vez tive. A Berta fazia-me dois rabos de cavalo com os totós verdes. A Berta fazia o melhor Bacalhau à espanhola do mundo e não sabia cozinhar um assado. A Berta não sabia ler nem escrever porque fugia à escola, mas aprendeu comigo a escrever o nome. A Berta não morreu consolada porque não lhe deram Cozido à portuguesa no hospital. Ah, a Berta era a minha avó.


Berta da Conceição da Silva Verdades
10 de Outubro de 1925- 24 de Maio de 2011

2 comentários:

  1. Bem... É só pussies aqui, não é?
    olha que bom
    no balls - no comments.
    Eu ao menos vim ocupar espaço... É smp bom lol
    ~Condolencias~

    Acho bem que os posts nao acabem.
    Se não vou-te trinchar. :P

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  2. Os meus pêsames. Estou certo que a tua avó será sempre um exemplo de vida.

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